Fake News, Ódio e Medo: Isso é Evangelho?
- frei Lorrane, ofm
- 1 de jun.
- 3 min de leitura

É triste, mas é real. Nos últimos tempos, basta falar de Igreja nas redes sociais que, junto, vem uma enxurrada de confusão, fake news, julgamentos e até discursos de ódio. Parece que, cada vez mais, ser católico virou participar de uma guerra na internet. E a pergunta que não sai da minha cabeça é: isso é Evangelho?
Basta olhar um pouco pra perceber que há algo errado. Quando a Igreja fala de acolhimento, gera polêmica. Quando fala de abençoar, gera escândalo. E, se fala dos pobres, pronto... logo aparece alguém gritando: “Isso é comunismo!”, como se cuidar dos pobres não fosse justamente o centro do Evangelho. Como se não fosse isso que Jesus fez e nos ensinou.
Esse tipo de distorção, infelizmente, virou alimento diário para as redes sociais. Foi assim, por exemplo, com a publicação da Fiducia Supplicans, um documento simples, que fala sobre bênçãos. Só isso. Mas o que fizeram? Criaram mentiras, espalharam pânico, colocaram coisas no texto que ele nunca disse. Geraram medo, divisão, e pior: usaram a fé como combustível pra espalhar ódio.
Falo isso, inclusive, pela minha própria experiência. Certa vez, fiz uma reflexão sobre como algumas orações, como a famosa Oração da Quaresma de São Miguel, acabaram virando um tipo de espetáculo nas redes. De repente, parecia que quem não acordasse de madrugada pra rezar não era um católico de verdade. Como se fosse uma obrigação, um dogma. Falei sobre isso, sobre essa pressão que muitos fiéis sentem, e, rapidinho, começaram a espalhar que eu estava atacando tal ou tal pessoa. Não era isso. Minha fala nunca foi contra ninguém, mas contra essa lógica que transforma a fé em peso, cobrança e comparação.
E aqui eu volto a perguntar: isso é Evangelho?
O Papa Francisco, de saudosa memória, no 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais, nos deixou um recado muito claro e urgente. Ele nos chamou a “desarmar a comunicação”, lembrando que ela deve ser caminho de esperança, e não de medo, desespero, preconceito ou rancor. E olhando pra nossa realidade hoje, é impossível não reconhecer que a internet, até dentro do meio católico, se encheu de discursos que dividem, machucam, acusam e espalham mentiras.
Parece que esquecemos o que é ser cristão. Esquecemos que comunicar é, antes de tudo, ser instrumento de paz, de unidade e de amor. Que falar dos pobres, dos pequenos, dos marginalizados, não é ser comunista, nem revolucionário... é ser discípulo de Jesus. É viver o Evangelho.
A Igreja, no passado, cuidava muito do que era comunicado. Existia (e ainda existe) o Imprimatur, uma autorização que garantia que os livros publicados não tinham erros contra a fé e a moral. Era uma forma de proteger os fiéis das mentiras e dos erros. Mas e hoje? Quem faz esse filtro no mundo digital?
Não, não se trata de censura. Ninguém quer calar ninguém. Mas se trata, sim, de responsabilidade. De lembrar que não podemos usar nossa fé pra gerar medo, pra dividir, pra alimentar preconceitos ou espalhar fake news.
Se nossa comunicação não gera esperança, não acolhe, não aproxima... então ela não está servindo ao Evangelho.
O desafio é grande. Mas é também urgente. Que a nossa voz, seja nas redes ou fora delas, nunca perca de vista aquilo que Jesus nos ensinou: “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).



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